Bag om O circo da pátria
"Ah, as aparências! Era isso, essa vontade de destruir as aparências, de desnudar e humilhar o ser humano, mostrando como ele é triste e fraco, podre e pobre por baixo das aparências. Era isso que me atraía àqueles encontros em que, pra me sentir forte, eu precisava me humilhar na subserviência e na náusea, experimentar o sabor azedo do nojo, pra ter uns curtos momentos de glória, em que, nu, prostrado e recolhido à própria insignificância animal, o ser humano, homem ou mulher, abre mão do poder de sua riqueza por um simples instante de gozo. "Ah, as aparências! O nojo por trás do gozo, a corrupção por trás do poder, a miséria como alicerce da riqueza. "Ah, as aparências! " Com essas palavras amargas e irônicas, Stella Maris reflete sobre a vida e sobre si mesma. Não poderia haver palavras mais apropriadas para uma mulher cuja trajetória vai de empregada doméstica, prostituta, strip-teaser, artista de circo e, finalmente, celebridade com direito a concorrer a uma cadeira na Assembleia Nacional Constituinte de 1987. Como se depreende da leitura, de lá para cá, pouca coisa mudou na vida brasileira; talvez alguns vícios tenham se arraigado ainda mais e alguns processos se aperfeiçoado. Mas, em essência, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes.
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