Bag om Uma personagem rebelde
"Uma personagem rebelde" narra o relacionamento do autor com sua personagem que se recusava a realizar o destino a ela planejado pelo autor. Um trabalho sobre a autonomia da personagem de ficção que muito ensina ao autor e arranca-lhe interessantes reflexões, como: "O tom de acusação me deixou perplexo: Selma dizia que, para maior pujança e brilho de minhas ideias, eu assassinava personagens. Uma acusação pesada para qualquer ficcionista que leva a sério o seu trabalho. Pensei em todos os romances que tinha escrito e me surpreendi com a quantidade de mortes e enterros. Porém, não havia um único suicídio. Por que, então, exigir isso de Selma? " "Fichei o caderno de Selma. Uma angústia esmagava meu peito. Puxa vida, essa menina tinha vivido tudo isso e eu sequer tinha notado! Uma estranha sensação de culpa me invadiu: afinal, não fosse eu ter escrito "O Ciclo da Soja", não haveria Selma nem essa dolorida experiência de vida. " Enfim, a personagem defendia seus direitos com argumentos irrespondíveis, como: "todo o dinheiro do mundo, apesar das aparências, não compra a felicidade, que, no fundo, é sermos o que queremos ser e não o que desejam que sejamos nem o que pensam que somos". Vale ressaltar a discussão sobre a função das obras ficcionais: "fazer ficção é contar uma grande mentira para dizer uma enorme verdade que, se dita de outra forma, não vai ser aceita em nenhuma hipótese". No entanto, a liberdade de "mentir" deve ser equilibrada para que o autor não possa ser achacado com a acusação feita por Selma: "você é o mais relapso dos romancistas: mergulha na realidade e se esquece da ficção". Embora "Uma personagem rebelde" tenha um vínculo umbilical com "O ciclo da soja", a leitura de um não pressupõe nem exige a do outro, apesar de os livros esclarecerem os universos de um e de outro.
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